Reúno memórias com a urgência impulsiva de quem recolhe roupas no início da chuva. Todo o tempo. Receava que os sonhos desbotassem e, dentro deles, o meu olhar. Entre o eterno e o perecível, um delírio caótico de uma só inspiração me cultivam vivo em teimosia. Um dia de contemplação que me canta um repertório tcheco na cabeça de um lado para o outro e em voltas me conta que o amor abre uma ferida porque tudo que faz bem também faz mal e que muda a vida como um trovão para tudo o que foi e será, que sera, sera; lo que fue y no se. . La ciudad se abre úmida e gris para os passos um tanto cambaleantes de uma bailarina enferrujada e para os olhos que depois de andarem rotos, andam nus. Meus óculos pintam pássaros nas grandes paredes dos edifícios e mendigos nos sacos e caixas, e de súbito eles parecem ascender ao céu. A vida ao redor exibe um filme mudo, preto e branco mas, dentro de mim, Léon (1994) em cartaz. Penso um pouco e procuro ver se as pessoas adivinham minhas profanas bênçãos recebidas, bendito eu entre os que passam, com rosas a brotar entre os cabelos, unhas de pérola e um imenso gato preto no estômago, mas desconfio que não me alcancem. Apenas contemplar parece saber do que se trata, do que me trato, trata-me, prega-me, ata-me.
7.06.2012
Postado por Unknown
sexta-feira, julho 06, 2012
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Categories: Escritos
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