A obra íntima do artista Fabio Baroli que utiliza a linguagem da pintura como suporte para desenvolver sua poética de conceitos da apropriação e do erotismo.
Série "Apropriações Textuais" - Autoretrato
Ateliê de Fabio Baroli.
Nada mais íntimo para um artista que seu ateliê. Nem mesmo um autoretrato nu - é o que penso. Fabio é Bacharel em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da Universidade de Brasília - UnB, o conheci em Goiânia na exposição coletiva do artista na Galeria da FAV. Lembro das pinceladas até hoje. Suas obras possuem um flagrante da realidade, mas uma realidade "inventada".
Alfa caliente (o ciclo do amor)_óleo, pastel
Na série "Janela Indiscreta" o artista pegou fotos de anônimos na internet. Mas a série "Apropriações textuais" são de conhecidos. Seus trabalhos mais recentes trazem questionamentos sobre o regionalismo e o imaginário infantil no interior de Minas Gerais. Fizemos uma entrevista por email:
- Você saiu de Uberaba para Brasília, morou no Rio e agora está de volta à Uberaba. Como foi esse processo?
Saí de Uberaba para Brasília em 2003 para me ingressar no curso de Artes Plásticas da Universidade de Brasília - UnB. Falo de Brasília com muita delicadeza porque a cidade foi pra mim também uma escola de vida. Sobre o processo artístico, lá foi onde tudo começou. Embora tivesse uma pequena experiência que levei comigo, porém, sem muitas referências, na faculdade comecei a desenvolver projetos mais pertinentes, mais conscientes sobre o que representa uma pesquisa em arte. A partir de 2007 acabei me focando apenas pintura. Me mudei para o Rio em 2011 afim de dar uma repaginada na vida. Foi uma boa experiência. Agora estou em Uberaba novamente. O assunto discutido no trabalho me trouxe de volta. Desde 2011 tenho desenvolvido trabalhos que tratam de assuntos sobre a infância no interior e atualmente sobre o regionalismo.
Série "Narrativas Privadas" - Composição 1
Série "Apropriações textuais" - Retrato Nina Ianchetti e Marcio Mota
Sujeito da Transgressão #5
- Nas suas "Apropriações textuais", "Narrativas privadas" e "Sujeitos da Transgressão" você se apropria do corpo alheio com o nu. Mas em suas últimas obras (inclusive as que me enviou por email) não há esse corpo desmascarado, há ações desse corpo interagindo com o espaço - cotidiano. Como foi essa mudança de olhar para você?
De repente, no processo dos trabalhos, percebi que estava no Rio de Janeiro pintando galinhas e caipiras. Logo reparei que havia algo estranho. Eu estava alimento a poética do trabalho com assuntos que me remetiam às minhas origens. Voltei pra minha cidade natal, para procurar vivenciar esta poética com mais proximidade/propriedade.
- Quais são os artistas que usa como referência ou que apenas gosta?
As influências são constantes. A cada série, tema desenvolvido procuro novas referências. Durante muito tempo fui influenciado por pintores como Jenny Saville e Eric Fischl, mais pelas técnicas que pelos motivos. Estudei bastante a obra do Edward Hopper também. Hoje, tenho uma grande predileção por Almeida Junior e seus temas rurais
- Geralmente, como é seu processo criativo até chegar aos novos trabalhos? Caderno de artista? Filmes, músicas, vivências?
Sou praticamente um colecionador de imagens. Não costumo fazer esboços antes de começar uma pintura. Retiro uma imagem daqui, outra dali, abro um programa de edição e começo a compor. As influências vêem de vários lados, da literatura, da música, da história da arte, sobretudo das vivências, do cotidiano, das pessoas.
Série "Intifada"
- Possui alguma ideia/conceito para a nova série?
Atualmente estou trabalhando paralelamente em duas séries "Muito pelo ao contrário" e "Meu matuto predileto". A primeira trata-se de uma série baseada em trocadilhos em que homenageio meu pai. As pinturas são desenvolvidas a partir de frases e anedotas com duplo sentido - em sua maioria há um apelo sexual. São cenas caseiras que passam pelas ruas do bairro ou ambientes familiares. A segunda trata-se de uma reconstrução da figura do matuto, em que procuro discutir o regionalismo de maneira mais centrada e reflexiva, numa tentativa de compreender e apontar questionamentos sobre o nosso momento. As imagens são também são retiradas do cotidiano e apresentam pessoas em suas relações com o meio, com a linguagem, a paisagem e a cultura no interior de Minas Gerais.
- Como é ser um artista relativamente novo, na arte contemporânea brasileira?
Tenho um apreço enorme pelo período contemporâneo, pela liberdade de atuação que o momento favorece. Escolhi trabalhar com pintura que é uma mídia tradicional em que procuro discutir a própria tradição da pintura, da história da arte e sua historicidade, dos discutidos, das formas de representação, das narrativas, etc. Ainda considerado um jovem artista, tenho conseguido sustentar o trabalho e aos poucos conquistar um espaço respeitoso no cenário.
Mais de Fabio Baroli, aqui.