Há três anos atrás, após a publicação da matéria "INHOTIM: A Grande Lavanderia Mineira", por Novojornal, o Ministério Público Estadual e Federal informou que instalara procedimentos investigatórios para apurar os fatos denunciados. PRocedimentos que aparentemente nunca chegaram a acontecer, e o aparentemente virou certeza após a Procuradoria Geral de Jsutiça de Minas Gerais suspender as investigações. Parece que alguém não queria mecher em um vespeiro. Tudo devido ao medo das ameaças de Bernardo Paes, que serviu, através de simulados “patrocínios”, de lavanderia de recursos provenientes de empresas públicas e privadas, além de entidades governamentais que em sua maioria foram destinadas a campanhas políticas. Gigantes como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras, Cemig, Copasa, Usiminas e Vale do Rio Doce utilizaram-se deste esquema para financiar o PT e o PSDB à nível estadual e federal.
De lavação por mensalão, vultosas somas foram desviadas e repassadas, através do Inhotim, á dirigentes de grupos da mídia mineira e nacional. Além da utilização de simulados patrocínio, as investigações apontaram que o mercado de artes também era utilizado com a finalidade de remeter irregularmente dinheiro para o exterior. E mesmo diante das irregularidades encontradas, o Governo Federal reconheceu em 2009 o Instituto Inhotim como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Em 2010, os jardins do Instituto Inhotim receberam o título de Jardim Botânico pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos (CNJB), o registro foi aprovado no Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
A impunidade e a proteção de autoridades governamentais ao esquema criminoso montado por Bernardo Paes é tamanho, que foi concedido o titulo de Jardim Botânico sem sequer analisar e investigar a origem das espécies existentes no Inhotim. Todas as irregularidades ocorridas na área de Botânica estavam encobertas até que foram denunciadas pelo ex-curador do instituto Inhotim, Prof. Dr. Eduardo Gomes Gonçalves do Departamento de Botânica, ICB, UFMG, profissional e pessoa de inquestionável conduta ética e moral, amplamente conhecido e respeitado nos meios acadêmicos.
Dr. Eduardo confirma a conduta irregular e ilegal que foi adotada na construção do acervo botânico do Inhotim. O pior, espécies valiosíssimas têm sido negociadas por intermediários do Inhotim no Brasil e no exterior, após serem colhidas da natureza sem qualquer custo sob o manto da “proteção legal”, conforme ocorrido no município de Itaobim (MG).
As ilegalidades são tamanhas, que a equipe do Novojornal decidiu nada acrescentar, publicando na íntegra as denúncias:
Primeira:
Caros amigos.
Na quarta-feira desta semana, vários amigos entraram em contato para saber sobre a história que se segue e se eu tinha algo a ver com isso. O site diz tudo por conta própria, sigam o link: Inhotim vem se explicar pela remoção de palmeiras Em 2009, fui convidado para trabalhar no Instituto Inhotim. Até então, era um lugar belíssimo, com um museu de arte contemporânea e o interesse em gastar para estruturar uma coleção de plantas. Percebi que era o momento perfeito de tentar criar um novo jardim botânico, com dinheiro e força política para alavancar os outros Jardins Botânicos no cenário brasileiro. Eu acredito em Jardins Botânicos! Envolvi-me profundamente na empreitada e conseguimos (eu, minha esposa e vários parceiros idealistas) estabelecer um jardim botânico com uma estrutura incomum, mesmo para padrões internacionais. Quando escrevi pessoalmente cada palavra da missão que consta no site oficial, cristalizei aquilo que pensei ser a missão do jardim botânico perfeito. Instituímos uma área de pesquisa, contatamos outros jardins, intercambiamos plantas e trabalhamos em importantes projetos de resgate em áreas sujeitas a supressão de vegetação. Em 2010, lançamos o Jardim Botânico Inhotim, com uma bela cerimônia e presença da Rede Brasileira de Jardins Botânicos (e muitos de vocês...). Em 2011, sediamos a própria reunião da RBJB. Era um sonho concretizado. Mas nem tudo são flores...Quando cheguei para trabalhar no Inhotim, o Sr. Bernardo Paz (o proprietário) costumava comprar plantas retiradas da natureza sem autorização, em grandes quantidades. Por mais que tentássemos convencê-lo a mudar esta prática (pois sabemos que existem alternativas sustentáveis) não consegui mudar esta cultura. Achei que a criação do Jardim Botânico simplesmente traria outras possibilidades para a obtenção legítima de material botânico. Nós da área de meio-ambiente esclarecemos aos diretores (executivo, financeiro e jurídico) que a simples conversão do Instituto a Jardim Botânico obrigaria a suspensão destas práticas. A proposta foi prontamente apoiada por estas instâncias, por dois motivos. Sair da ilegalidade e redução de gastos (cada carreta de palmeiras custava R$ 50.000,00 e isso abalava as contas do instituto). Sugerimos um termo de ajuste de conduta, para "zerar" o passivo. Mas não adiantou... Então expliquei que, era possível retirar plantas da natureza, desde que em pequena quantidade (de preferência na forma de sementes) e com autorização. Falei sobre resgate de flora, como forma de obter exemplares adultos. Mostrei que existia o SisBio e todo o protocolo. Nós, os curadores, chegamos a escrever cartas tanto de alerta quanto de repúdio (envio a quem quiser ver) em relação a estas práticas. Mas foi em vão. Hoje, vejo o jardim botânico que visceralmente ajudei a criar, usando autorizações "oficiais" para retirar três carretas de palmeiras, ainda mais em uma área de vereda, que são protegidas por lei por serem APPs. Sei que ninguém do ICMBio (em sã consciência) daria autorização para tal empreitada. Para multiplicar esse material, bastava apenas três a cinco plantas adultas e bem cuidadas, desde fossem escolhidas plantas geneticamente distantes. Sempre achei que jardins botânicos deveriam ter autorização absoluta de coleta, pois ninguém mais que nós sabe como podemos retirar plantas para conservação ex situ sem destruir uma população. Hoje vejo uma instituição usando os recursos legais (que eu e outros mostramos) para extrair plantas da natureza para fins pouco nobres, como completar o paisagismo. Para isso, existem viveiros comerciais, que multiplicam legalmente seus plantéis. Hoje biólogos e outros profissionais são usados de "laranjas" e o ICMBio usado como "parceiro". É o mais autêntico caso de Greenwashing que eu conheço.. Devo explicar-me. Até então, calei-me por questões contratuais, mas descobri recentemente com advogados que não preciso me calar sobre questões de ilegalidade. Não sou mais curador do Inhotim e nunca compactuei com estas ações. Mas devo satisfações a vocês, que me ajudaram quando eu tinha um sonho na cabeça. Eu ajudei a criar um monstro e posto aqui o meu mea culpa.Atenciosamente,
Eduardo.
Prof. Dr. Eduardo Gomes Goncalves
Depto. de Botânica, ICB, UFMG
Av. Antonio Carlos, 6627, Pampulha
31.270-901, Belo Horizonte, MG, Brasil
Fone: (31) 3409-2689
Fax: (31) 3409-2684
eduardog@ufmg.br
Segunda:
Dirijo este e-mail ao IBAMA e a todos que possam se mobilizar e fazer parar algo absurdo que está acontecendo em Minas Gerais. O Museu Inhotim sob a égide de OSCIP ambiental retira palmeiras ameaçadas de seu habitat (sem autorização) e transplanta para seus jardins babilônicos pra qualquer visitante ver, chega a ser tão descarado que nem se preocupam em esconder e convidam membros do MMA para eventos ambientais, além de honrados pesquisadores dos jardins botânicos brasileiros e internacionais. Imagino que as plantas que eles estão comercializando na lojinha bonita com preços bem salgados também devem ter origem ilegal. Eles não poupam nada nem ninguém. Sou colecionador, apaixonado por plantas e procuro por sementes raras em todo o Brasil. Ano passado estive em Itaobim (MG) atrás de sementes de uma palmeira que pouca gente conhece – Siagrus kellyana. Não tinha frutos maduros,então voltei esse ano. Fiquei chocado por encontrar apenas seis palmeiras no local, onde antes havia mais de 200! As palmeiras tinham sido arrancadas, só tinham os buracos! Mais chocado fiquei depois, quando fui acompanhar um amigo na visita ao Museu Inhotim em Brumadinho, famoso por causa das suas palmeiras. Andando pelo jardim encontrei as palmeiras extraídas!!! Elas só existiam naquela região de Minas. As plantas estavam meio secas, porque tinham sido plantadas recentemente , mas ainda pude reconhecer. Perguntei para um jardineiro que trabalhava no terreno e ele disse que as palmeiras chegam no caminhão do “seu Ricardo” e quem manda trazer é o “Pedro Néri”. Não sei quem é o Seu Ricardo, mas o Pedro “Néri” foi bem fácil descobrir. É o sr. PEDRO NEHRING CESAR , paisagista do Inhotim, irmão de JOSE ROBERTO. Essa dupla fez o famoso JARDIM DA CASA DA DINDA por 2,5 milhões de dólares, um escândalo que derrubou o Presidente COLLOR em 92. Esse fato está registrado no “Livro Negro da Corrupção”, de Modesto Carvalhosa. Nunca pensei que a corrupção de Brasília invadiria nosso Estado através do extrativismo predatório de plantas nativas! Fiquei me perguntando como é que um museu que é considerado um PARQUE AMBIENTAL pode cometer um ato tão desprezível e sair impune??? Sei que o Inhotim é um museu muito rico mantido por um milionário. Quanto está custando o silêncio da imprensa? Pergunto isso porque o dono do Inhotim, o Sr. Bernardo Paz está sempre cercado de VIPs, seu irmão é o sócio do Marcos Valério, do mensalão, lembram? Agora Sr. Bernardo se associa aos paisagistas Nehring. Só não vê quem não quer, basta seguir o rastro de sujeira. Deixo aqui a denúncia com dados suficientes para apuração da imprensa ou do IBAMA, porque coleciono palmeiras há muitos anos, mas respeito as natureza e só colho sementes. Será que a ganância e o cinismo de BERNARDO PAZ E PEDRO NEHRING são tão grandes que eles pensam que podem tirar plantas do seu habitat natural para enfeitar seus jardins e ainda posar de ONG AMBIENTAL? Imaginar que eu paguei para entrar nesse lugar para ver isso!!! Vamos mostrar nosso repúdio a esse “paraíso da corrupção”, não visite o Museu Inhotim enquanto se portarem com tanto desrespeito pelas leis brasileiras e pelos cidadãos! Envie essa mensagem para todos os seus amigos e ONGs que se importam com o meio ambiente e vamos protestar contra a aniquilação de uma espécie rara em MG!
Friends of plants
Pedro Henrique V.B.P. da SilvaGraduando em Ciências BiológicasBolsista do Laboratório de OrnitologiaInstituto de Ciências BiológicasUniversidade Federal de Minas GeraisTel.: (31) 9293-8669pedrohenriquevbpsilva@gmail.com
INHOTIM: A Grande Lavanderia Mineira
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