é que me sinto mais vivo assim.
Os dias não passam, Joana. A jogatina das horas sobre os dias já não fazem sentido algum. Mas algum dia fez? Fui andando, andando... A garganta arranhando. Bebo ou não? E bem na minha frente um bar. E bêbados. Todos alegres, rindo. Sentei numa mesa e comecei a beber. E o medo da vida, dos acontecimentos, nada passou. Cansei das leituras, das tragédias, das besteiras. De ser triste. Resolvi beber. Já não chorava. Nada me olha como se eu existisse. É crua sim, a vida.
Eu descobri o monstro, Joana, não lhe cheguei a falar desse tormento? O monstro não era a casa, um espaço apenas para se ficar excitado, pensar e viver. E por incrível que pareça o monstro parecia se esmaecer. Naquele espaço, entre as tintas opacas, das cores mestiças no papel, tornando-se outra coisa ou o que quer que seja. Durava minutos que passavam por horas, e depois encontrava-me perdido novamente. Saía para caminhar, tomava presença na universidade, e me apaixonava. E tentava existir, mas nada me olhava como se eu existisse. E eu tentando apenas inventar palavras, as coisas que se acometiam pela fumaça do café, não, do cigarro. E eu me apaixonei sete vezes, um cabelo escuro liso, outras sombrancelhas nada perfeitas, gostava muito de um amigo que chegou e sentou-se, já disparando na prosa conjunta. Um negro, um ímpeto, uma vontade. Eu sozinho no sofá, a mão em conha, suada, metendo no nada. O monstro, Joana, o monstro era eu.
(quanto a se sentir traído, traídos somos todos nós, mais cedo ou mais tarde).
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